sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EPISÓDIO I - CAPÍTULO 2 - ALEGRIA AZUL

Uma dica de navegação: para ler com "trilha sonora" clique no nome de cada uma das músicas citadas. O Youtube abrirá numa nova página (sem fechar a sua) e você poderá pôr a música para tocar. A seguir clique, lá em cima, para voltar para nossa página (SEM FECHAR O YOU TUBE). A música tocará no Youtube enquanto você lê a história.



2
ALEGRIA AZUL

     O Carro fluía bem, super leve; começou a tocar "And When the Night Comes" de Anderson e Vangelis (uma canção que eu amo), e o mundo ficou simplesmente lindo. 

   A Noite é a hora do Azul. E a Noite é a hora da Alegria. Isto muito antes do “Happy Hour”. Contudo, é difícil ver alegria na cor azul. Na verdade, os de língua inglesa estão convencidos de que o azul é triste[1]. Mas na visão de Crowley isto tornou-se possível: uma Alegria Azul. Talvez porque na visão do homem santo, “alegria” seja uma coisa silenciosa e calma.  “Assim seja!”, eu penso, feliz.

    Então, declarei meu amor ao Amor mais uma vez, tal como faço agora (semper, semper, toujours!). 

    Súbita e tontamente (do nada) tive a ideia de fazer uma “estante-altar”. Na verdade, fiz até um rabisco a respeito. Vendo o desenho, muito mal feito, reparo que seria, de fato, uma cômoda, ou um armário altar.

 Figura 5
    Eu estava deliciado com esse segundo nível, digamos assim, da Grande Autobahn. Sou novamente solicitado pela voz no banco da frente. A mesma mulher; firme. Nada a ver com a garota da Baby Consuelo:
    - O senhor pode continuar como puder nessa sua alegoria aí (como se dissesse: vejamos até onde isso vai) ah, ah (ela continua, após um riso de sargento), quem sabe ainda me convença, senhor Capitão.
    Só me resta perguntar, em voz alta:
    - Capitão?
    - Sim, senhor. Capitão de sua própria nave, o senhor não concorda?
    Quase sinto-a do meu lado, mas ela estava decididamente no banco da frente. Desta vez a mensagem vinha com segundas leituras, como é característico nessas vias voadoras.
((((interestelar canoa))))
    - Está tocando novamente Rapte-me Camaleoa – eu falo.
      - É claro que está; mas foi o senhor que pediu.
     - Pedi?
     - Quando estava tonto; o senhor pediu muito. Mas agora não está mais tonto, não é? Agora o senhor sabe que se pedir uma coisa tonta como essa ela pode muito bem acontecer. Mas, adiante; vamos aos assuntos práticos. Como te disse eu te pedi umas rosquinhas – séculos atrás, por sinal – e agora o senhor nos aparece com um caldeirão vermelho fervente; um troço tão quente que estamos transportando num veículo especial, blindado, completamente anti-lunáticos, para sua própria proteção. Por isso, não se preocupe; o caldeirão está bem protegido.
   Começa a tocar "Terra (Dentro da Estrela Azulada)", de Caetano Veloso.  Novo tremor. Amor subindo feito lava de vulcão.
  “Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia”... era Caetano cantando  sua história, que também é a nossa. Vôo nas asas de seu gênio.

Terra

Caetano Veloso

Tom: C
                 
Intro:G  G/B
 
( G  G/B )
Quando eu me encontrava preso, na cela de uma cadeia
Foi que eu vi pela primeira vez, as tais fotografias
Em que apareces inteira, porém lá não estava nua
                   C C/G C C/G
E sim coberta de nuvens
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distante o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
( G  G/B )
Ninguém supõe a morena, dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema, mando um abraço pra ti
Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta
               C C/G C C/G
E fosses a Paraíba
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
         F             C
Quem jamais te esqueceria
( G )
Eu estou apaixonado, por uma menina terra
Signo de elemneto terra, do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza, terra para a mão carícia
                        C C/G C C/G
Outros astros lhe são guia
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
Eu sou um leão de fogo, sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente,e de nada valeria
Acontecer de eu ser gente e gente ser outra alegria
                    C C/G C C/G
Diferente das estrelas
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distante o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
( G )
De onde nem tempo e nem espaço, que a força mande coragem
Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem
Que realizas do nada,através do qual carregas
                C C/G C C/G
O nome da tua carne
G/B  G  G/B  G  Am                    |
Terra,          terra,                |
Em                     Dm             | 3 vezes
Por mais distante o errante navegante |
        F              C              |
Quem jamais te esqueceria             |
Na sacadas do sobrado, na velha são salvador
A lembranças de donzelas do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem
                 C C/G C C/G
A Bahia tem um jeito
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria

      Agora já não estávamos mais num carro.
     Agora, com a Terra inteira à vista, bem grande no visor,
     já não seguíamos por estradas.



[1] Em inglês, “blue”, “azul”, quer também dizer ”triste”, “chateado”. Daí veio o “blues”, música que começou com um acento triste devido a todo o sofrimento da raça negra nos estados unidos. Gilberto e Gil e Caetano falaram o mesmo sobe o samba no CD Tropicalia 2: o samba nasceu da tristeza (isto é, da dor). O que faz todo o sentido.

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