quarta-feira, 21 de novembro de 2012

EPISÓDIO I - CAPÍTULO 1 - O RAPTO

Aqui começa a história:
Uma dica de navegação: para ler com "trilha sonora" clique no nome de cada uma das músicas citadas. O Youtube abrirá numa nova página (sem fechar a sua) e você poderá pôr a música para tocar. A seguir clique, lá em cima, para voltar para nossa página (SEM FECHAR O YOU TUBE). A música tocará no Youtube enquanto você lê a história.
P.S.o leitor sabe como é o You Tube, a boa vontade é grande, mas a mediocridade impera. Portanto, não posso responder pelos "clips" que rolarão no Youtube. Uma feliz exceção (até o momento) é Rapte-me Camaeloa, em que a equipe criou mesmo um video-clipe (não oficial) para a canção. Ponto para o Brasil.

      ZENITH, THE AGENCY ORGULHOSAMENTE APRESENTA:

O ZÊNITE


EPISÓDIO I    
S.O.S.KAMALEOA

CAPÍTULO 
1

O RAPTO 

5 de Agosto de 2012, Domingo, ANNO IVxx.
19:08’
    


    Eu estava feliz, na paz, trabalhando feito um desvairado na noite de domingo quando começou a tocar "Seus Olhos" no PC , com Baby Consuelo , uma canção que eu decididamente não tinha programado. Fui invadido por uma onda do inverno passado, que trouxe em sua rabeira uma pontada aguda de nostalgia. Entonteci, mesmo com as guitarras sincopadas de Pepeu[1], que me irritam profundamente.
    A letra da canção vem de uma mulher que não existe.
Mas é a própria Vênus!  



Baby do Brasil [2]
de Baby Consuelo e Jorginho Gomes; 2ª faixa de CÓSMICA (Long Play),1982

D 
O meu coração flutua 
G D 
Nessa tua divindade 
G D 
É tão bom a gente amar 
A7 D 
Sentir felicidade 
G D B7 
E eu que sou um beija-flor 
E7 A7 
Quero o pólen do seu amor 
D 
Pra te dar muito carinho 
F# D 
Mil beijinhos de mansinho 
E7 A7 
Envolvida nos teu braços 
D 
Eu me sinto um carneirinho 
D G 
A sua temperatura 
D 
Aquece o meu corpo todinho 
G D E7 
Seu jeito de amar me faz imaginar 
A7 D 
Que eu sou uma nuvem a flutuar 
D G 
E esse seus olhos de luzes 
Bb7 A7 D 
É só olhar para eu me apaixonar.


        Um Anjo?
    Certamente um Anjo.   “E estes seus olhos de luzes, é só olhar p’reu me apaixonar”.
    No final da canção Pepeu inspira-se no solo, que atinge momentos mágicos, mas tudo termina da maneira sincopada que ele gosta e eu detesto. Sobrevivemos todos.
    Como disse, entonteci. Ouço o fechar da porta de um carro.
    - Estou num carro? - pergunto, ainda tonto.
     Ouço murmúrios. Depois a resposta, numa voz de mulher:
    - Isto mesmo, senhor. Estamos entrando na Grande Autobahn.
    Surpresa. “Sim”, percebo, “está tocando  "Autobahn[3].

Figura 2 -  Capa do LP Autobahn, de 1974, obra-prima do grupo alemão Kraftwerk.

    A beleza da música ajudou-me a perceber o quanto aquela tontura era agradável, levando-me a flutuar, como num vôo, nota a nota, camada a camada daquela que era, eu me dava conta, uma das músicas – obra humana – do século passado.
          Figura 3 - Kraftwerk: 4 homens + 4 máquinas = Música Celestial

    Era um vôo – a voz multiplicada dos homens-máquina aquecendo o peito misteriosamente, misteriosamente.
    “Que entre o transcendente, que entre o transcendente”, repito, como num mantra. Foi algo que criei como se ouvisse, envolvido por súbito arrebatamento. “Isto mesmo”, eu repeti gentilmente, eu...
    “Eu estou e quero estar aberto a Ti, ó Universo.”
    Eu quase disse, “ó Falcão” envolto que estava por um ardor dourado, mas ainda não tinha as evidências todas.
    A mulher no banco da frente volta a falar, um pouco irritada:
    - Então eu te peço umas rosquinhas e o senhor me traz um caldeirão vermelho fervente?
    Dentro de meu espectro de percepção aquela devia ser a primeira resposta do “Universo” à minha entrega, segundos antes.


Figura 4 - The Universe - O Universo - Vigésimo Primeiro Arcano Maior do Tarot.
Carta do Livro de Thoth, de Aleister Crowley e Lady Frieda Harris - década de 40.

    Agora eu me dava conta. Eu estava, por assim dizer, dentro de uma carta do Tarot de nome O Universo (Arcano XXI, Saturno), tudo em resposta à minha entrega. Respondo a ela (a mulher misteriosa no banco da frente) como quem responde ao “Universo” – que naquele espectro de percepção era meu “Anjo”:
    - Está tocando "Rapte-me Camaleoa"
    Uma coisa bastante estúpida de se dizer, mas tenho em minha defesa argumentos, de modo algum descabidos:
    Em primeiro lugar eu estava tonto, como já avisei duas vezes, e tolices (ou tontices) é o que um tonto diz.
    Em segundo lugar, estava mesmo tocando Rapte-me Camaleoa (de Caetano Veloso), portanto a tolice que eu dissera era apenas a coisa certa colocada fora de lugar.  
    Ela responde:
    - Uma vez um repórter, sempre um repórter, isto eu entendo perfeitamente. “Como é terrível ser homem e ter de viver sem a chance de um decote”. Li este artigo seu.
    - Meu?
    - Pois é, até contra isso o senhor protestou. Imagino só a patente das autoridades que cuidam desses assuntos.  Provavelmente o senhor está requisitando que os homens tenham peitos, também. Muito bonito. Não sei se todos vão gostar.
    - Mas eu não falei nada disso! (quase desperto de minha tontura).
    Provoquei risadas dentro no carro. De algum modo isso me tranqüilizou.  Tive então a súbita percepção que atingíramos um nível acima na Grande Autobahn – desta vez por meio de Rapte-me Camaleoa. Uma canção que eu realmente tinha programado.

HPe'


Rapte-me, Camaleoa

Caetano Veloso


Tom: A
                 
A                     G
Rapte-me, camaleoa, adapte-me a uma cama boa
(F#m                     B)
Capte-me uma mensagem à toa
De um quasar pulsando loa
Interestelar canoa
(E                                     D)
Leitos perfeitos, seus peitos direitos me olham assim
Fino menino me inclino pro lado do sim
Rapte-me, adapte-me, capte-me, it's up to me, coração
Sem querer ser merecer ser um camaleão
A                                
Rapte-me, camaleoa, 
 G                                A      (G   A)
adapte-me ao seu ne me quitte pas




[1] Pepeu Gomes, guitarrista, compositor e cantor; na época marido de Baby Consuelo.
[3] Autobahn, faixa de 22 minutos da banda alemã Kraftwerk, música eletrônica, 1974.

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