terça-feira, 27 de novembro de 2012

EPISÓDIO I - CAPÍTULO 5 - CARTA PARA A TERRA (prelúdio)


5
CARTA PARA A TERRA
(prelúdio)

8 de Agosto de 2012, quarta, 21:43’

Scientific American (Brasil)  N° 48 - Agosto de 2012


   
 Minha querida Terra,
    comprei a Scientific American - Brasil  sobre o Rio+20 como uma preparação para o juramento que estava a ponto de fazer. Como dístico coloco o trecho de Terra transcrito com ornamentos dourados no dia 5. Isto, amigos, é o que tenho a falar no momento.
Hpe’

Beleza Pura - Para Caetano Veloso
por Hpe', 8 de Agosto de 2012, gouache dourado sobre papel preto

  - Mas então, senhor HPe’; não adianta fugir do assunto. A seta subiu e o senhor sabe. Que bom que sabe. E agora estamos aqui, juntos na Nave.
    Conosco você pode estar à vontade.
    Hmm! e ali está. Vem chegando o Caldeirão.

"Cozinhe com Arte: Banners Laváveis Z."

    Mal pude acreditar. Eu não falhara, afinal! Apesar de ter sido açoitado e diminuído (apenas verbalmente) por minha exigente anfitriã eu consegui dar uma imagem "harmônica" (como ela queria) ao meu Caldeirão. 
    Tratava-se de uma de minhas delirantes criações na "Grande Autobahn", um "banner lavável" para decorar a cozinha das bruxas e bruxos do Brasil. Uma coisa realmente DO FUTURO! Agora, quando um thelemita fosse cozinhar ele (ou ela) ia se lembrar de todas as dicas da Alquimia para não errar no prato. "Como é em cima, é embaixo"! Eu estava no CÉU. Lady Frieda Harris (a autora da pintura que usei para ilustrar a ideia) ia certamente adorar. Quanto ao idealizador da imagem em si, que trabalhou com ela na criação da obra, nada menos que Aleister Crowley, eu realmente não sei o que ele ia pensar. Talvez que qualquer um tem o direito de estampar o que quiser - principalmente se isto engrandecer e incrementar a Grande Obra.
   Este por sinal é o tema da obra: a Grande Obra Alquímica e Universal.

Tarot de Thoth (de Aleister Crowley e Frieda Harris)
ARCANO XIV - ARTE.

             Mas você poderia fazer o seu banner lavável com a imagem que quisesse, o importante é a lembrança da antiga relação entre a cozinha e a Alquimia, que a gente, na pressa do mundo contemporâneo costuma esquecer. Um banner desse tamanho em cima do fogão certamente ajudaria na lembrança, além de decorar a cozinha. Meu sonho de enriquecer obscenamente estava cada vez mais perto, e assim o sonho de construir um armário-altar, ou, quem sabe, um planetário em forma de nave, ou, ainda, salvar as pinturas de Lady Frieda Harris da deterioração. Apenas um homem muito rico poderia fazer estas e outras coisas urgentes para a Terra.
              Foi nesse ponto de meus delírios que me foi dado descansar. Agora uma doce e amiga mornidão me avisava que o Sol estava perto. Que não era preciso pensar e almejar e desejar mais. Tudo isto são sonhos, são ilusões que se espalham a nossa volta como promessas de futuro, mas o que importa é o aqui e o agora.
               Ao som de uma canção amiga eu fechei meus olhos, me despedi de tudo,
e parti.


EPISÓDIO I - CAPÍTULO 4 - CHEGADA PELO MAR



SINOPSE:

AGORA JÁ NUMA NAVE, A PERSPECTIVA MUDA, NOSSO REPÓRTER VÊ SEU PLANETA DO ESPAÇO, COM TODO O CONFORTO E EM EXCELENTE COMPANHIA, AINDA QUE BASTANTE ENIGMÁTICA. 
NESTAS PARAGENS, TUDO TEM UM SIGNIFICADO. TUDO PODE SER ALGO ALÉM DO CASUAL. ASSIM, ELE SE PERGUNTA: ESTARÁ A TERRA EM REFAZENDA?
O ZÊNITE EPISÓDIO I - S.O.S.KAMALEOA 
CAPÍTULO
4
CHEGADA PELO MAR
Para Caetano Veloso e Mestre Didi





Na costa da Bahia, tal como Cabral, ali, bem pertinho do Totem de Força do Mestre Didi – não tem erro: lança aponta mesmo é para o céu.



O céu se molda à penetração da lança,
tal como Nuit e Hadit.
O céu é meu Amor (quanto mais, melhor)
A lança é minha Vontade (uma força interior)




 - Hum! (ela diz) O senhor e suas visões.
   
                           Sem tirar a mão do manche ela olha um pouco melhor.



  - Hummm... nada mau. É um cavalo marinho, não é? (só que eles não são assim). E tem um olho. Estou vendo. Mais uma pro caldeirão fervente, não é? Pois então, meu caro capitão, esta é a razão de sua viagem; temos de transformar seu caldeirão vermelho fervente em deliciosas rosquinhas, está me entendendo? Rosquinhas simples e deliciosas para a gente comer. Depois o senhor continua com seus planos de mudar inteiramente a face do mundo ocidental. Primeiro, as simples rosquinhas que te pedi. Então, o senhor acha que consegue?
    Eu protestei dizendo que minha tarefa era bem mais complexa do que fazer rosquinhas, que sua metáfora me parecia largamente disparatada – embora eu tenha ficado muito intrigado com a parte do “caldeirão”.


       Mostrei a ela a imagem que me viera à mente quando ela falou em Caldeirão Vermelho Fervente. Uma coisa que eu peguei da internet em 2004 e que se tornou um símbolo forte para mim, por 93 razões.
  
    - Não – ela disse – seu caldeirão não me parece tão harmônico quanto esse. Além do mais, isso aí é púrpura, não está vendo? É puro púrpura; joia rara. O seu é vermelho fervente, lava de vulcão. Mas gostei da lembrança, senhor capitão; pode servir, quem sabe, de referência para o senhor. Isto aí são espirais, não? Duas.  Que bonito. O senhor está no caminho certo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EPISÓDIO I - CAPÍTULO 3 - A NAVE

Uma dica de navegação: para ler com "trilha sonora" clique no nome de cada uma das músicas citadas. O Youtube abrirá numa nova página (sem fechar a sua) e você poderá pôr a música para tocar. A seguir clique, lá em cima, para voltar para nossa página (SEM FECHAR O YOU TUBE). A música tocará no Youtube enquanto você lê a história.


3
A NAVE


       Sim, lá nas alturas eu tive a ideia louca de construir um planetário em forma de nave espacial. Todo mundo ficaria lá, na ampla cabine, bem de frente para a mega janela da nave (na verdade uma tela onde seria projetada em 3D uma empolgante viagem pelo Universo). Cada visitante teria acesso a um computador (como está no desenho). Por isto penso que a viagem pelo Universo seria apenas uma das funções desta Nave Planetário. 
    Uma olhada atenta na hora da foto fez-me respirar mais fundo uma vez.  Fui especialmente tocado por um trecho de Terra,  que nesse dia 5 saltou para fora como um estandarte:


    Anoto isso, como uma oração. Mas (como disse) é um trecho da letra de “Terra (Dentro da EstrelaAzulada)”, de Caetano Veloso. Ano, por favor? Pois estamos aqui em nosso RIO + 20 pessoal a ponto de fazer um juramento.

Figura 7
ZUMBI 2012 – REFAZENDA – por HPe’. Nanquim e gouache dourado sobre papel.


(E foi desta maneira enigmática, amigos, tanto quanto a letra de Refazenda, que eu terminei a terceira etapa de minha viagem.)



Refazenda

Gilberto Gil

Tom: A
                 
      D
Abaca-teiro
A7/4(9)           D
Aca-tare--mos teu ato
        A7/4(9)      D
Nós tam-bém somos do mato
       A7/4(9)     D   A7/4(9)
Como o pato e o le-ão 
        D
Aguarda-remos
       A7/4(9)     D
Brinca-remos no re-gato 
    A7/4(9)        D 
Até que nos tragam frutos 
      A7/4(9)       D     A7/4(9) 
Teu a-mor, teu cora-ção 
      D 
Abaca-teiro 
       A7/4(9)       D 
Teu re-colhi-mento é justamente 
A7/4(9)       D
O sig----nifi-cado 
      A7/4(9)     D   A7/4(9) 
Da pa-lavra tempo-rão 
           D 
Enquanto o tempo 
         A7/4(9)     D 
Não trou-xer teu aba-cate 
    A7/4(9)     D 
Ama-nhece-rá to-mate 
       A7/4(9)      D    A7/4(9) 
E anoi-tece---rá ma-mão 
      Dm 
Abaca-teiro
      Am7        Dm          Am7
Sabes ao que es--tou me refe-rindo 
       Dm        Am7        Dm    Am7 
Porque todo tama-rin--do tem 
        Dm          Am7
O seu a-gosto azedo
         Dm             Am7
Ce---do, antes que o ja-neiro
     Dm          Am7       Dm    A7/4(9)
Doce manga venha ser também
      D
Abaca-teiro
      A7/4(9)      D
Serás meu parceiro solitário
A7/4(9)     D
Nesse itine-rário
      A7/4(9)   D     A7/4(9)
Da le-veza pelo ar
      D
Abaca-teiro
      A7/4(9)     D
Saiba que na refa-zenda
A7/4(9)               D
Tu me en-sina a fazer renda
             A7/4(9)     D   A7/4(9)  Dm
Que eu te en-sino a namo-rar
Am7         Dm       Am7     Dm
Re---fa--zen----do tu-----do
Am7         Dm       Am7     Dm
Re---fa--zen----da
Am7         Dm       Am7     Dm
Re---fa--zen----da to-----da
Am7         Dm       Am7
Gua--ri--ro----ba

EPISÓDIO I - CAPÍTULO 2 - ALEGRIA AZUL

Uma dica de navegação: para ler com "trilha sonora" clique no nome de cada uma das músicas citadas. O Youtube abrirá numa nova página (sem fechar a sua) e você poderá pôr a música para tocar. A seguir clique, lá em cima, para voltar para nossa página (SEM FECHAR O YOU TUBE). A música tocará no Youtube enquanto você lê a história.



2
ALEGRIA AZUL

     O Carro fluía bem, super leve; começou a tocar "And When the Night Comes" de Anderson e Vangelis (uma canção que eu amo), e o mundo ficou simplesmente lindo. 

   A Noite é a hora do Azul. E a Noite é a hora da Alegria. Isto muito antes do “Happy Hour”. Contudo, é difícil ver alegria na cor azul. Na verdade, os de língua inglesa estão convencidos de que o azul é triste[1]. Mas na visão de Crowley isto tornou-se possível: uma Alegria Azul. Talvez porque na visão do homem santo, “alegria” seja uma coisa silenciosa e calma.  “Assim seja!”, eu penso, feliz.

    Então, declarei meu amor ao Amor mais uma vez, tal como faço agora (semper, semper, toujours!). 

    Súbita e tontamente (do nada) tive a ideia de fazer uma “estante-altar”. Na verdade, fiz até um rabisco a respeito. Vendo o desenho, muito mal feito, reparo que seria, de fato, uma cômoda, ou um armário altar.

 Figura 5
    Eu estava deliciado com esse segundo nível, digamos assim, da Grande Autobahn. Sou novamente solicitado pela voz no banco da frente. A mesma mulher; firme. Nada a ver com a garota da Baby Consuelo:
    - O senhor pode continuar como puder nessa sua alegoria aí (como se dissesse: vejamos até onde isso vai) ah, ah (ela continua, após um riso de sargento), quem sabe ainda me convença, senhor Capitão.
    Só me resta perguntar, em voz alta:
    - Capitão?
    - Sim, senhor. Capitão de sua própria nave, o senhor não concorda?
    Quase sinto-a do meu lado, mas ela estava decididamente no banco da frente. Desta vez a mensagem vinha com segundas leituras, como é característico nessas vias voadoras.
((((interestelar canoa))))
    - Está tocando novamente Rapte-me Camaleoa – eu falo.
      - É claro que está; mas foi o senhor que pediu.
     - Pedi?
     - Quando estava tonto; o senhor pediu muito. Mas agora não está mais tonto, não é? Agora o senhor sabe que se pedir uma coisa tonta como essa ela pode muito bem acontecer. Mas, adiante; vamos aos assuntos práticos. Como te disse eu te pedi umas rosquinhas – séculos atrás, por sinal – e agora o senhor nos aparece com um caldeirão vermelho fervente; um troço tão quente que estamos transportando num veículo especial, blindado, completamente anti-lunáticos, para sua própria proteção. Por isso, não se preocupe; o caldeirão está bem protegido.
   Começa a tocar "Terra (Dentro da Estrela Azulada)", de Caetano Veloso.  Novo tremor. Amor subindo feito lava de vulcão.
  “Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia”... era Caetano cantando  sua história, que também é a nossa. Vôo nas asas de seu gênio.

Terra

Caetano Veloso

Tom: C
                 
Intro:G  G/B
 
( G  G/B )
Quando eu me encontrava preso, na cela de uma cadeia
Foi que eu vi pela primeira vez, as tais fotografias
Em que apareces inteira, porém lá não estava nua
                   C C/G C C/G
E sim coberta de nuvens
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distante o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
( G  G/B )
Ninguém supõe a morena, dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema, mando um abraço pra ti
Pequenina como se eu fosse o saudoso poeta
               C C/G C C/G
E fosses a Paraíba
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
         F             C
Quem jamais te esqueceria
( G )
Eu estou apaixonado, por uma menina terra
Signo de elemneto terra, do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza, terra para a mão carícia
                        C C/G C C/G
Outros astros lhe são guia
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
Eu sou um leão de fogo, sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente,e de nada valeria
Acontecer de eu ser gente e gente ser outra alegria
                    C C/G C C/G
Diferente das estrelas
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distante o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria
( G )
De onde nem tempo e nem espaço, que a força mande coragem
Pra gente te dar carinho, durante toda a viagem
Que realizas do nada,através do qual carregas
                C C/G C C/G
O nome da tua carne
G/B  G  G/B  G  Am                    |
Terra,          terra,                |
Em                     Dm             | 3 vezes
Por mais distante o errante navegante |
        F              C              |
Quem jamais te esqueceria             |
Na sacadas do sobrado, na velha são salvador
A lembranças de donzelas do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia faz a gente querer bem
                 C C/G C C/G
A Bahia tem um jeito
G/B  G  G/B  G  Am
Terra,          terra,
Em                     Dm
Por mais distânte o errante navegante
        F              C
Quem jamais te esqueceria

      Agora já não estávamos mais num carro.
     Agora, com a Terra inteira à vista, bem grande no visor,
     já não seguíamos por estradas.



[1] Em inglês, “blue”, “azul”, quer também dizer ”triste”, “chateado”. Daí veio o “blues”, música que começou com um acento triste devido a todo o sofrimento da raça negra nos estados unidos. Gilberto e Gil e Caetano falaram o mesmo sobe o samba no CD Tropicalia 2: o samba nasceu da tristeza (isto é, da dor). O que faz todo o sentido.